sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Inquietude

Inquietude é a saudade
De momentos nunca antes vividos
Recordações futuras imaginadas
Em tempos para sempre esquecidos

É a impossibilidade de mudar o passado
De tirar todo o atraso
E fazer o bem pra si

É a cura inexistente
Pra uma doença incurável
Remediar não basta
Prevenir era preciso

Mas nem tudo é perdido
Outras  memórias virão
Lá na frente, o imprevisível
Traz a esperança consigo

Não se atrase para perdoar, viver, amar... Sonhar, querer, tentar
Uma chance de reaver uma parte de tudo aquilo
Que se deixou fora de lugar...
Pra nunca mais ter que dizer
Jamais

Quadros

Cada linha desenha o tempo
Uma pincelada é o instante,
Constante e iminente,
Inerte e rumo ao risco

Da vida, as cores vibram,
Dando à sensação o tom,
Da tela emana o som
De todos que lá dentro gritam

Em preto e branco,
Chove fina uma melancolia
Em júbilo, o olhar onírico
Deseja com simpatia

Angústia esta que toma
E concretiza a abstração
Um turbilhão de ideias
Invadem pensamentos evanescentes
Vindo, vendo, ouvindo

Visões desvirtuadas
Vivas, tão vorazes
Vêm à tona em devaneio
Visualizando voluptuosas vozes

Do olhar reflete 
Repetida sintonia
Misteriosa pressão
Falando em sinfonia?

Só lamenta um segredo,
Lá está sua entrelinha,
Sinta intensa excitação
Dormindo sem harmonia

-

O que aquieta a alma
Um acalanto aqui querido
A paz cada vez mais
É querer quem tem sentido

Ao canto dessa sala,
Na altura de um suspiro,
Descansa o corpo lasso
De quando o mundo dá seu giro

Uma imagem que se forma
Uma mensagem que inspira
Ressuscita no reflexo das luzes
O poeta que lhe pinta

Mas, afinal, no seu final
Sua firma é sua sina
O destino que interessa
A Ventura que ensina

Lira

Um passe pra liberdade
Libertar dos males
Mazelas, maldizeres
É a felicidade em seu mais puro prazer

É expressar o que dói dentro
Ou, de fora, vem corroer
É falar da impressão
Que os sentidos têm a dizer

Ah, felicidade (quase) extinta! Tão rara!
Não demora a aparecer.
Porque o que os ventos por ora trazem
São prenúncios de seu desapego

Que desafeto te há afastado
Por tantas léguas no tempo

Só resta uma esperança 
Não a que se procura no mundo
Nem nos outros
Mas a que encontramos d'alma adentro

Noite

Mesmo ao apagar das velas
A chama continua acesa
Entranhada na vontade
De sentir esse prazer

E a paisagem que se inflama
Ao longe, no horizonte
Inspira o ébrio boêmio
Pra voltar a escrever

Que será dos novos dias
Quiçá das doces noites
Que vêm como orvalho 
Temperando o alvorecer

Mas suspiro que inspira
Mais alento de viver
Jaz em frente ao que os olhos miram
Pra tocar seu florescer

Na silhueta, o veneno
Que dispersa a atenção
Do que ao redor o mundo tenta
Pra enxergar na escuridão

Quando tudo fica bem
E o futuro é indiferente
Esquecer é a razão
Pra ser mais presente

Um afago vale mais
Que palavras despojadas,
Jogadas, expostas, tramadas.
A verdade ali se faz

E se puder ver
O que move a esperança...
Um lugar à luz do sol,
Ser feliz numa lembrança